Se eu morresse hoje, gostaria de encontrar o diretor de cinema Jūzō Itami numa cafeteria do paraíso.
Lá, pediria o melhor café gelado da casa e o convidaria a sentar-se confortavelmente para ouvir o que tenho a dizer. Na verdade, para ver o que tenho para mostrar.
E então, usaria a tecnologia disponível para que ele visse um vídeo gravado na vertical que começa com a narração "este é o maior e mais recheado hambúrguer de São Paulo".
Observaria atentamente cada reação de Itami ao assistir a um influenciador digital fazendo caras e bocas enquanto experimenta qualquer atrocidade culinária que a capital paulista pode proporcionar: uma torre de queijo cheddar, sashimi preso num varal, sobremesas que vêm dentro de um copo com Nutella na borda e uma bebida colorida com gelo seco com nome de subcelebridade.
Tudo isso porque Jūzō Itami conhece muito bem a relação humana com a comida e a retratou em “Tampopo”.
"Tampopo" é um filme de 1985 que tem como história central um caminhoneiro que resolve ajudar a dona de um restaurante a transformar o seu lámen no melhor da região. Vários outros personagens surgem no meio do caminho com suas narrativas apresentadas em episódios um tanto desconectados do enredo principal. O filme nos oferece amor como prato principal, mas há também entradas e sobremesas regadas a obsessão, erotismo e humor.
O retrogosto é uma história não muito surpreendente, mas com belas imagens, ótimo texto e ainda dá para sentir lá na pontinha da língua uma crítica social foda, comida afetiva inclusa.
Minha recomendação é que, assim como eu, você prepare um lámen quentinho para degustar enquanto assiste a esta obra de Jūzō Itami. Vai por mim, você vai sentir fome.